O café em jejum é realmente prejudicial?

Por muitos anos, médicos e nutricionistas orientaram que tomar café em jejum poderia causar desconfortos estomacais, como azia, gastrite e refluxo. A lógica por trás dessa orientação estava relacionada à acidez do café, que, teoricamente, poderia estimular a produção de ácido gástrico em um estômago vazio, prejudicando a mucosa.

Contudo, estudos mais recentes vêm desmistificando essa crença. A ciência atual mostra que, para a maioria das pessoas saudáveis, o consumo moderado de café em jejum não representa um risco significativo para o sistema digestivo. Isso não significa que o hábito seja isento de efeitos colaterais, mas sim que seus impactos variam de acordo com o organismo de cada pessoa.

O que dizem os estudos científicos mais recentes

Diversas pesquisas têm sido realizadas nos últimos anos para entender os efeitos do café no organismo, especialmente quando consumido em jejum. Um estudo publicado na revista Nutrients em 2020 concluiu que o consumo de café não aumenta significativamente a acidez estomacal em pessoas saudáveis. Além disso, ele pode até oferecer efeitos protetores ao sistema digestivo, graças à presença de antioxidantes como o ácido clorogênico.

Outra pesquisa, publicada no British Medical Journal (BMJ), indica que o consumo de até 3 a 4 xícaras de café por dia está associado a benefícios para a saúde cardiovascular, hepática e neurológica — mesmo quando consumido antes do café da manhã.

Quem deve evitar o café em jejum?

Embora o café em jejum seja bem tolerado por muitas pessoas, há casos em que o consumo pode, sim, trazer desconfortos. Pessoas com histórico de gastrite, úlcera gástrica, refluxo gastroesofágico ou sensibilidade à cafeína devem evitar tomar a bebida de estômago vazio.

A cafeína pode estimular a produção de ácido no estômago, o que, em pessoas mais sensíveis, pode causar queimação ou náuseas. Além disso, o café também pode aumentar os níveis de cortisol (o chamado “hormônio do estresse”), especialmente nas primeiras horas da manhã. Em indivíduos suscetíveis, isso pode gerar ansiedade, irritabilidade ou alteração do apetite.

Benefícios do café, mesmo em jejum

Apesar da preocupação com os efeitos sobre o estômago, o café possui uma série de benefícios comprovados pela ciência, inclusive quando consumido em jejum:

• Melhora da atenção e concentração: a cafeína atua no sistema nervoso central, aumentando o estado de alerta e a performance cognitiva.

• Ação antioxidante: compostos como os polifenóis ajudam a combater os radicais livres, prevenindo o envelhecimento celular.

• Estímulo ao metabolismo: o café acelera o metabolismo e pode ajudar na queima de gordura corporal, principalmente quando associado à prática de exercícios.

• Redução do risco de doenças crônicas: estudos indicam que o consumo moderado de café está associado a menor risco de doenças como Alzheimer, Parkinson, diabetes tipo 2 e alguns tipos de câncer.

Cuidados ao consumir café em jejum

Mesmo que o hábito não seja prejudicial para todos, alguns cuidados podem ajudar a minimizar possíveis desconfortos:

1. Escolha cafés de boa qualidade: cafés de torra média ou clara, sem aditivos ou conservantes, tendem a ser menos agressivos.

2. Evite o café muito quente: temperaturas muito altas podem irritar o estômago.

3. Modere a quantidade: uma xícara (cerca de 150 a 200 ml) é suficiente. Evite exageros, especialmente se estiver em jejum prolongado.

4. Observe o seu corpo: caso perceba azia, dor abdominal ou irritação após o consumo, reduza ou evite a bebida nesse momento do dia.

5. Considere quebrar o jejum primeiro: para quem tem estômago sensível, comer algo leve antes de tomar café pode ser uma boa alternativa.

Café e jejum intermitente: aliados ou inimigos?

Com a popularização do jejum intermitente, muitas pessoas passaram a consumir café preto sem açúcar como forma de manter o jejum metabólico. A boa notícia é que, para fins de jejum intermitente, o café puro não quebra o jejum e pode, inclusive, potencializar os benefícios da prática, como o aumento da energia e da queima de gordura.

No entanto, isso só se aplica ao café sem açúcar, leite ou adoçantes calóricos. Qualquer adição que forneça calorias pode interromper o estado de jejum.

O café descafeinado é uma alternativa?

Para quem é sensível à cafeína ou quer evitar seus efeitos estimulantes, o café descafeinado pode ser uma boa alternativa. Ele mantém muitos dos antioxidantes presentes no café tradicional, com menor risco de causar desconfortos gástricos ou insônia. No entanto, algumas pessoas ainda relatam irritações estomacais mesmo com o descafeinado, o que mostra que os efeitos são bastante individuais.

Conclusão

A ideia de que café em jejum faz mal é, em grande parte, um mito para a maioria das pessoas saudáveis. Os estudos mais recentes mostram que o consumo moderado não aumenta significativamente a acidez estomacal nem prejudica o sistema digestivo de forma generalizada.

No entanto, é importante lembrar que cada organismo reage de maneira diferente. Pessoas com problemas gastrointestinais, sensibilidade à cafeína ou altos níveis de estresse devem avaliar seu consumo e considerar ajustes na rotina.

A ciência evolui, e com ela, nossas práticas diárias também devem ser atualizadas. O importante é ouvir o seu corpo e, sempre que possível, contar com a orientação de profissionais da saúde para decisões mais seguras.

Fonte principal:

• Nutrients Journal – Coffee Consumption and Health: Umbrella Review of Meta-Analyses of Multiple Health Outcomes

• British Medical Journal (BMJ) – Coffee consumption and health: umbrella review of meta-analyses of multiple health outcomes

• Harvard Health Publishing – Is drinking coffee on an empty stomach bad for you?

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