Microsoft bloqueia IA chinesa DeepSeek: entenda os riscos e tensões globais

Microsoft proíbe uso da IA chinesa DeepSeek; medida acende alerta sobre dados, censura e riscos geopolíticos na disputa entre EUA e China.

TECNOLOGIA

Equipe Spark Tech

5/12/20254 min ler

flat screen computer monitor displaying white and black screen
flat screen computer monitor displaying white and black screen

DeepSeek proibida na Microsoft: dados, censura e riscos geopolíticos em jogo

A Microsoft decidiu proibir internamente o uso da inteligência artificial generativa DeepSeek, desenvolvida na China. A decisão vem após uma crescente preocupação com a segurança de dados e possíveis riscos de espionagem associados a tecnologias emergentes vindas de países rivais. O movimento acentua a escalada de tensões tecnológicas entre os Estados Unidos e a China e reacende debates sobre censura, soberania digital e geopolítica.

O que é a DeepSeek?

DeepSeek é uma ferramenta de IA generativa criada por uma equipe baseada na China, capaz de realizar tarefas complexas de linguagem natural, como geração de textos, tradução e interpretação de dados. Seu desenvolvimento foi financiado e apoiado por instituições chinesas, e rapidamente ganhou popularidade por seu desempenho e facilidade de uso.

Assim como outros modelos de IA, DeepSeek é treinada com grandes quantidades de dados. No entanto, especialistas em segurança e privacidade chamaram atenção para o fato de que plataformas baseadas na China podem estar sujeitas à supervisão do governo chinês, de acordo com as rígidas leis de cibersegurança do país.

A proibição da Microsoft

Em maio de 2025, a Microsoft bloqueou o acesso a DeepSeek em sua rede interna, após identificar que alguns funcionários estavam utilizando a ferramenta para tarefas relacionadas ao trabalho. A empresa alegou que esse uso representava um risco de vazamento de dados sensíveis, especialmente considerando as regulamentações e diretrizes de compliance que regem o setor de tecnologia nos Estados Unidos.

A Microsoft afirmou que sua política interna visa proteger informações confidenciais e reforçar a segurança digital da empresa. A decisão está alinhada com medidas semelhantes adotadas por outras gigantes da tecnologia americana, que vêm evitando o uso de softwares e plataformas chinesas.

Contexto geopolítico e tecnológico

A medida adotada pela Microsoft não acontece isoladamente. Nos últimos anos, as relações entre Estados Unidos e China vêm se deteriorando no campo da tecnologia. Proibições ao TikTok em dispositivos governamentais, restrições a empresas como Huawei e ZTE, e sanções comerciais contra fabricantes chineses de semicondutores são apenas alguns exemplos.

Essas ações fazem parte de um movimento mais amplo de desacoplamento tecnológico (ou “tech decoupling”), em que potências ocidentais buscam reduzir a dependência de tecnologia chinesa, temendo vulnerabilidades em segurança nacional.

A proibição da DeepSeek é, portanto, tanto uma medida de segurança quanto um sinal de alinhamento político em meio a uma disputa global pela supremacia em inteligência artificial.

Censura e coleta de dados: preocupações reais

Um dos principais temores envolvendo ferramentas como a DeepSeek é o uso indevido de dados. Apesar de não haver provas públicas de que a IA chinesa esteja coletando informações de usuários estrangeiros para fins maliciosos, a falta de transparência e o ambiente regulatório da China levantam suspeitas entre governos e empresas ocidentais.

Segundo analistas, mesmo que o DeepSeek não tenha intenção explícita de espionagem, seus servidores podem estar sujeitos a solicitações do governo chinês, conforme previsto pela legislação local.

Além disso, há o problema da censura embutida. Usuários relataram que a ferramenta bloqueia ou distorce informações quando são feitas perguntas sobre temas sensíveis ao regime chinês, como os protestos na Praça da Paz Celestial, a independência de Taiwan ou a situação em Hong Kong. Essa “censura algorítmica” pode representar um risco para a integridade da informação quando tais plataformas são utilizadas em ambientes corporativos, educacionais ou jornalísticos.

Impacto para o setor empresarial

Empresas globais enfrentam um dilema: por um lado, querem aproveitar o poder das novas ferramentas de IA para aumentar produtividade; por outro, precisam garantir a proteção de seus dados e seguir as normas de privacidade e compliance.

A decisão da Microsoft pode servir como precedente para outras empresas ocidentais que ainda permitem o uso da DeepSeek. Segundo fontes internas, o Google, Amazon e Meta já estariam revisando o uso de ferramentas similares em seus ambientes corporativos.

Especialistas recomendam que empresas estabeleçam políticas claras sobre o uso de IA generativa, especialmente quando estas operam com dados confidenciais ou em setores regulados, como saúde, finanças ou defesa.

Reações na China e possíveis retaliações

Até o momento, autoridades chinesas não se pronunciaram diretamente sobre o bloqueio da Microsoft. No entanto, é provável que a decisão seja interpretada como mais um ataque ao setor tecnológico chinês. O governo da China tem investido pesadamente em IA como parte de sua estratégia de desenvolvimento econômico e militar.

A exclusão de ferramentas como a DeepSeek de empresas ocidentais pode acelerar os esforços chineses para criar um ecossistema de tecnologia autossuficiente, enquanto fortalece as restrições para empresas dos EUA operando na China.

A nova guerra fria da IA

O caso da DeepSeek reflete um cenário maior, em que a inteligência artificial está no centro de uma nova corrida geopolítica. Diferente da Guerra Fria do século XX, o conflito atual não é apenas militar, mas também digital.

As principais potências do mundo estão disputando não apenas o domínio da IA, mas também o controle da informação, da infraestrutura digital e da confiança do consumidor. A proibição da DeepSeek na Microsoft é um capítulo simbólico dessa disputa, onde segurança, política e tecnologia se entrelaçam de forma complexa e global.

Conclusão

A decisão da Microsoft de bloquear o uso da DeepSeek dentro de sua rede é mais do que uma precaução técnica — é uma posição estratégica em um cenário de crescente tensão entre grandes potências. Ao mesmo tempo em que levanta alertas sobre a coleta de dados e a censura, também impulsiona um debate urgente sobre soberania digital, liberdade de informação e os rumos da inteligência artificial.

Enquanto governos e empresas definem seus posicionamentos, o usuário final permanece no centro dessa disputa, muitas vezes sem saber que tipo de algoritmo está moldando suas escolhas e acessos à informação.

Fonte: Gizmodo

Leia também...

Foto de Mika Baumeister no Unsplash